Última atualização em 12/07/2016 por admin
O estilo de vida ostensivo dá ares de grande empresário a Fabrizio Dulcetti Neves. Radicado nos Estados Unidos, ele possui um apartamento com 1.220 metros quadrados em um dos bairros mais nobres da zona sul da capital paulista. O imóvel, com 25 cômodos, é um dos mais caros do País: custa cerca de R$ 16 milhões. Tudo normal não fosse a forma como ele acumulou todo este patrimônio. Fabrizio Dulcetti lidera um grupo especializado em ganhar dinheiro levando fundos de pensão ao vermelho. Em denúncia apresentada na última semana, o Ministério Público Federal acusou ele e outras sete pessoas de provocarem um prejuízo de R$ 465 milhões no Postalis, instituto de previdência privada dos Correios, entre 2006 e 2011. As falcatruas elevaram o rombo do fundo de pensão para mais de R$ 4 bilhões. Na prática, aposentados e pensionistas terão de contribuir mensalmente com mais de 15% de seus rendimentos até 2039 para repor o dinheiro desviado. Caso contrário, a Postalis quebraria. Fazem parte do esquema, segundo a procuradora Karen Louise Kahn, o então presidente do Postalis, Alexej Predtechensky, e o diretor financeiro, Adilson Florêncio.
A Atlântica Administração de Recursos, empresa de Fabrizio Dulcetti, gerenciava dois fundos de investimentos com dinheiro da Postalis. Tinha como obrigação buscar oportunidades de aplicações que dessem retorno. Mas fez justamente o contrário. Montou um esquema em que corretoras americanas compravam títulos a preços de mercado e os repassavam para empresas em paraísos fiscais de pessoas ligadas a Fabrizio. Depois, os mesmos papéis eram revendidos aos fundos da Postalis geridos por ele por preços superfaturados. Estas operações trouxeram um lucro de US$ 35,5 milhões ao grupo e um prejuízo de US$ 63 milhões aos pensionistas do Correio entre 2006 e 2010. “Restou claro o objetivo fraudulento das negociações realizadas com os ativos de crédito privado no exterior, antes de seu ingresso nas carteiras dos dois fundos de investimento, inexistindo justificativa lógica ou aceitável para os aumentos exorbitantes nos preços de negociação dos títulos”, afirmou, em despacho, a procuradora Karen Kahn. “Redundaram em lucros substanciais a pessoas que justamente tinham o poder de influenciar as decisões de investimento dos fundos”, complementou na denúncia. Uma das offshores envolvidas no esquema pertencia ao então presidente da Postalis, Alexej Predtechensky.
Entre 2010 e 2011, o grupo iniciou a negociata mais danosa ao Postalis. Venderam todos os títulos da dívida brasileira da carteira de investimento para comprarem papéis emitidos pelos governos da Argentina e da Venezuela. A estratégia por si só, além de altamente arriscada devido à dificuldade destes países em honrarem com seus compromissos, já desrespeitava o regulamento dos próprios fundos que previa um investimento mínimo de 80% em títulos da dívida externa da União. Mas o pior foi o valor desembolsado. Representando a Postalis, a Atlântico pagou US$ 120,4 milhões em títulos emitidos por cerca de US$ 40 milhões. Não precisa ser matemático para saber quem pagou o prejuízo. Os quase UU$ 80 milhões se tornaram um desfalque a mais para os pensionistas e aposentados da Postalis.
Em julho de 2015, ISTOÉ trouxe à tona as primeiras conexões políticas das fraudes na Postalis. Mostrou, com exclusividade, como os diretores do fundo forçaram, em 2010, a compra de cerca de R$ 80 milhões em debêntures emitidas pelo grupo Galileo Educacional, que prometia assumir as universidades Gama Filho e UniverCidade. O dinheiro acabou desviado irrigando contas de operadores e políticos responsáveis pela nomeação dos diretores do fundo. O presidente do Senado, Renan Calheiros, teria embolsado R$ 30 milhões, o senador petista Lindbergh Farias R$ 10 milhões e o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), o mesmo valor. Em junho, a Polícia Federal prendeu sete envolvidos na operação do negócio. Entre eles, o dono da refinaria de Manguinhos, Ricardo Magro, e o ex-diretor financeiro da Postalis, Adilson Florêncio da Costa. As investigações tentam recuperar parte dos recursos, uma das esperanças dos pensionistas do fundo para que possam cobrir parte do prejuízo e reduzir o tempo em que terão parte das suas aposentadorias retidas.