Última atualização em 04/11/2014 por admin
O Japão soube combinar tecnologia, vanguardismo e reverência à natureza. Resultado: um país moderno, que procura olhar para a frente sem se esquecer do seu passado.
Ao se desenvolver economicamente e atingir um dos melhores níveis de desenvolvimento humano do mundo, a taxa de natalidade caiu drasticamente e a população atingiu recordes de longevidade.
Mas em uma economia capitalista, movida pelo consumo, a população idosa não é propriamente aquela que se destaca em consumir. Os publicitários que movem o mundo da propaganda sempre tiveram um apreço maior pelos arroubos dos jovens.
Atualmente cerca de 25% da população japonesa já tem mais de 65 anos. Em 2050, esse número de idosos saltará para mais de 40% das pessoas. Trata-se de uma realidade completamente nova para o mundo, pois velhinhas e velhinhos simpáticos andam expeditos pelas ruas de Kyoto ou Tóquio, pegam metrô, vão ao médico e, como é justo e legítimo, querem receber sua aposentadoria por muitos anos pela frente.
Sob essa ótica, o Japão está com um grande problema. Se nos anos sessenta e setenta do século passado o milagre da economia japonesa fez todo mundo pensar que ali emergia a grande potência do mundo (como se via no filme futurista “Blade Runner – o caçador de andróides”), nos anos noventa os economistas mudaram o discurso e passaram a falar da economia japonesa como a década perdida.
O quadro ainda hoje é de estagnação econômica. Para ativar sua economia, o Japão terá que se abrir ao mundo e atrair os jovens estrangeiros.
Tudo no Japão é extremamente limpo, organizado, quase que perfeito. As pessoas são encantadoramente educadas. A gastronomia nipônica é um exercício de prazer não apenas para o paladar, mas também para os olhos. Porém, a terra dos samurais e xoguns apresenta uma realidade inquietante: o suicídio é a maior causa de morte entre as pessoas de até trinta anos de idade.
O Japão fez de suas virtudes o seu vício: se poupar é bom, o Japão passou a fazer poupança além da conta; se o envelhecimento é uma conquista, os japoneses não se renovaram na procriação. Para lembrar a advertência de Napoleão, “aquele que só pratica a virtude é o que está mais perigosamente perto do vício”.
O povo japonês pagou caro, muito caro, pelos sonhos expansionistas de seus governantes. Os horrores das guerras não são uma abstração nos livros de História, mas algo tangível, que toda família carrega na memória. A Rosa de Hiroshima, obra prima de Vinícius de Moraes na voz de Ney Matogrosso, é dolorosamente real para esse povo do sol nascente.
Como prova de que tudo está em processo de mutação, um país que ajudou a revolucionar o mundo com seus extraordinários empreendedores e gestores privados como Konosuke Matsushita (Panasonic), Akyo Morita (Sony), Soichiro Honda (Honda) e Kiichiro Toyoda (Toyota), um conjunto de ilhas que fez a Humanidade dar saltos na miniaturização de produtos, na indústria de motores e na robótica, hoje pode ficar para trás na nova corrida digital dos tablets.
A cultura nipônica já deu enorme contribuição para a cultura brasileira desde os tempos em que chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes japoneses, no início do século XX. Os japoneses também deram grandes lições ao mundo com seu indomável espírito de reconstrução em face de terremotos e tsunamis.
No Japão, o tema da longevidade extravasou o ambiente de especialistas e tornou-se assunto de restaurantes e cafés.
O Government Pension Investment Fund – GPIF é o maior fundo de pensão capitalizado do mundo, com ativos na ordem de US$ 1,2 trilhão. Em um difícil processo de discussão e decisão, esse fundo público capitalizado vai reduzir sua exposição a títulos públicos e ampliar sua participação em ações de empresas japonesas e estrangeiras. Com maior exposição à renda variável, o GPIF servirá de exemplo para os demais investidores institucionais japoneses, com reflexos para a governança das empresas investidas. Um fundo de pensão dessa magnitude é um enorme transatlântico que não consegue fazer movimentos bruscos e, portanto, é incapaz de interagir rapidamente com as vicissitudes cotidianas de um mercado volátil e globalizado.
Para países que pretendem fortalecer regimes previdenciários capitalizados e dinamizar sua economia, vale a pena dar uma olhada no que está acontecendo com esse grande fundo de pensão japonês.
Hoje uma coisa é certa: nos temas da longevidade e da convivência harmônica com os mais idosos e experientes, o Japão é um leading case que certamente vai servir de referência obrigatória para o Brasil e para o mundo, com lições sobre moderação e excessos.
*Adacir Reis é sócio do Escritório Reis, Tôrres e Florêncio Advocacia.