Última atualização em 01/05/2014 por admin
Em 1997, o cientista Se-Jin Lee conseguiu criar “Ratos Possantes”, modificados geneticamente, com o dobro de músculos dos roedores normais. Agora os laboratórios farmacêuticos estão usando essa descoberta para fabricar medicamentos que poderiam ajudar os idosos a voltar a andar e a reconstruir os músculos numa série de doenças.
A Novartis, trabalhando com a firma de biotecnologia MorphoSys, possui a mais avançada dessas drogas. Sanofi, Eli Lilly, GlaxoSmithKline , Pfizer e Atara Biotherapeutics, de capital fechado, também trabalham em medicamentos em estágios mais iniciais. Todos estão em testes em fase inicial ou clínicos e a primeira droga poderia ser aprovada em 2016.
“Estou muito otimista quanto a esses novos medicamentos”, diz Lee, professor de biologia molecular da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, no Estado americano de Maryland, que não participa de nenhum desses testes. “O fato de que [os testes] já avançaram tanto significa, para mim, que [as farmacêuticas] devem ter visto algum efeito.”
A miostatina é uma proteína que ocorre naturalmente e que inibe o crescimento muscular. Os novos medicamentos atuam bloqueando sua ação, ou bloqueando os locais onde ela é detectada no corpo, agindo, potencialmente, na reconstrução muscular.
“Creio que o entusiasmo em relação à miostatina é bem claro”, diz Nathan LeBrasseur, professor e especialista muscular da Clínica Mayo em Rochester, no Estado americano de Minnesota. “Se você perguntar qual é o alvo perfeito para essas drogas, é difícil argumentar contra a miostatina, pois ela é muito específica da musculatura do esqueleto”.
O grande objetivo dessas drogas seria o tratamento dos idosos. Especialistas dizem que a perda de massa muscular e o Alzheimer – o declínio das funções físicas e cognitivas, respectivamente – são as duas principais causas que levam idosos a instituições de cuidados intensivos.
Um dos aspectos mais importantes do envelhecimento é a fragilidade, ou seja, a pessoa desacelera o ritmo e fica mais fraca. “Boa parte disso se deve à força muscular, o que estamos procurando melhorar”, diz Mark Fishman, presidente dos Institutos de Pesquisa Biomédica da Novartis.
A Novartis e a Sanofi estão testando seus medicamentos na perda de massa muscular relacionada ao envelhecimento, a chamada sarcopenia. A Eli Lilly está testando sua droga em pacientes idosos que vão receber próteses de quadril ou se recuperam de uma queda.
“A perda de massa muscular com impacto nas funções representa uma população muitíssimo grande”, diz Bill Evans, especialista em envelhecimento e metabolismo muscular da GlaxoSmithKline. “Meu palpite é que ela pode afetar de 15% a 20% da população com mais de 65 ou 70 anos.”
Mesmo assim há grandes obstáculos para se conseguir a aprovação de um remédio contra a sarcopenia. Os reguladores ainda não definiram a sarcopenia como uma doença, ou seja, não há nenhuma maneira fácil de aprovar um medicamento para tratá-la.
“As pessoas tendem a considerar a perda de massa muscular como apenas um processo inevitável do envelhecimento”, diz Lee.
Os laboratórios farmacêuticos também temem a tarefa hercúlea de recrutar milhares de pacientes idosos – de preferência que não estejam tomando outros medicamentos – para ensaios clínicos de alto custo e vários anos de duração. Outra preocupação é o possível abuso por atletas, fisiculturistas ou aqueles que procuram um elixir antienvelhecimento, mesmo quando não tenham problemas de perda de massa muscular.
As drogas ainda estão a alguma distância de serem aprovadas para tratar pacientes idosos. Mas Lee está ansioso para ver qualquer aplicação médica para a sua descoberta, depois de uma série de fracassos de medicamentos para a miostatina, no fim dos anos 2000.
A Wyeth, que agora faz parte da Pfizer, e a farmacêutica britânica Shire, em parceria com a Acceleron Pharma, interromperam remédios de miostatina em desenvolvimento para a distrofia muscular. Alguns pacientes dos ensaios da Shire apresentaram sangramento no nariz e nas gengivas. Testes planejados pela Amgen e outras também foram interrompidos.
As drogas de miostatina tiveram um “mau começo”, diz LeBrasseur. Os novos tratamentos funcionam de forma ligeiramente diferente. As esperanças para a BYM338, o medicamento da Novartis, agora são elevadas. Analistas estimam que as vendas anuais possam chegar a US$ 4,9 bilhões, segundo estudo da consultoria Defined Health, citado pela MorphoSys. A estimativa de analistas do J.P. Morgan é de cerca de US$ 3,4 bilhões.
O teste mais avançado da BYM338 é em pacientes com uma doença rara de degeneração muscular chamada miosite esporádica por corpos de inclusão (s-IBM na sigla em inglês). Nos ensaios, os pacientes apresentaram pequeno aumento no volume dos músculos da coxa, e conseguiram caminhar mais que os que tomaram placebo, embora os efeitos tenham desaparecido após o tratamento.
A BYM338 está agora nos estágios finais de testes clínicos da doença, com dados de outro ensaio esperados para fins de 2015.
Os medicamentos de miostatina também estão sendo testados para a perda de massa muscular causada por uma síndrome crônica associada à perda de peso e atrofia muscular chamada caquexia. Esse seria um mercado muito maior.
Segundo estimativas, a caquexia é responsável por quase um terço das mortes por câncer, e também leva à morte pacientes com tuberculose, doenças cardíacas e pulmonares. Os atuais tratamentos para estimular o apetite nem sempre são eficazes, e os esteroides podem ter efeitos colaterais danosos.
Outros acreditam que no futuro as drogas podem ser usadas até para tratar a obesidade e a diabetes tipo 2, já que construir mais massa muscular resulta numa área de armazenamento maior para os açúcares, que de outra forma poderiam se acumular no fígado ou no pâncreas. (Hester Plumridge e Marta Falconi – The Wall Street Journal/Valor Online)