Última atualização em 01/05/2014 por admin
Em seu discurso de posse, em janeiro de 2011, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini sinalizou que, em algum momento, a meta de inflação, fixada em 4,5% há dez anos, seria reduzida. “Para níveis mais baixos, semelhantes aos observados nas principais economias emergentes”, disse ele. “Esse é um processo que devemos ter a ambição de perseguir no futuro.”
Quase 40 meses depois, o que se vê é o seguinte: em 2013, a inflação brasileira (5,9%) superou a média mundial (3,3%), a média dos países avançados (1,2%) e a média dos emergentes e em desenvolvimento (5,4%). Além disso, foi quase o dobro da média dos emergentes que, a exemplo do Brasil, operam com regime de metas para inflação.
Em 39 meses de governo Dilma Rousseff, o IPCA acumulado em 12 meses superou em dez oportunidades o teto (6,5%) de tolerância do regime de metas. Isto significa que, nesse período, a inflação esteve fora do intervalo permitido em 25,6% do tempo. Em 53,8% dos casos, ficou acima de 6% e, em 95% das vezes, de 5%.
Sob Dilma, IPCA superou teto do regime em dez de 39 meses
Em apenas dois meses do período que vai de janeiro de 2011 a abril de 2014, o IPCA ficou abaixo de 5% – em maio (4,99%) e em junho (4,92%) de 2012. Portanto, no período analisado, o índice de preços oficial jamais ficou na meta ou abaixo dela.
A inflação esteve e está persistentemente acima da meta no Brasil porque o governo Dilma realmente acredita que o custo de desinflacionar a economia é muito alto e politicamente inaceitável. A preocupação da atual gestão nunca foi levar o IPCA à meta ou mesmo lutar para diminuir a meta, mas, sim, estabilizá-lo no intervalo entre 5,5% e 6%. Foi o que ocorreu na maior parte do tempo desde janeiro de 2011.
Antes de ter como objetivo reduzir a inflação, a presidente Dilma considerou derrubar a taxa de juros. Esta foi sempre a sua intenção. No seu projeto eminentemente político – inclusive, porque economicamente essa meta não faz sentido -, ela fez de tudo para realizar o desejo, menos o que realmente precisava ser feito.
Vêm daí decisões que causaram grande confusão na economia, como o voluntarioso corte das tarifas de energia elétrica e o congelamento dos preços dos combustíveis. Ao fim e ao cabo, as medidas, que represaram a inflação em vez de eliminá-la, estão produzindo um sentimento de fim de regime: o IPCA continua alto e provavelmente romperá o teto de 6,5% nos próximos meses; os juros estão mais elevados hoje do que quando Dilma chegou ao poder; e o crescimento médio do PIB é o terceiro mais baixo da história republicana – maior apenas que o dos governos Floriano Peixoto e Collor.
Não é difícil entender por que, ao contrário do que ocorreu na maior parte do tempo na gestão Lula, as expectativas de inflação, peça central do regime de metas, estão deterioradas. Uma das principais razões está no fato de que, toda vez que a presidente e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, falam em meta, referem-se a 6%, 6,5%, quando ela é, por decreto presidencial, 4,5%.
Todos na sociedade, de sindicalistas a pequenos empresários, passando por grandes empresas e bancos, percebem que, para Brasília, uma inflação nesse nível é aceitável. O que é aceitável se torna, por causa das expectativas, realidade, patamar, piso. Com um agravante: nesse ambiente, ninguém acredita que o BC vá buscar uma inflação menor.
O fato é que, concorrendo para esse triste quadro de complacência, a atual diretoria do BC nunca se comprometeu com a convergência da inflação à meta. Fez uma gestão claramente acomodatícia às pressões do Palácio do Planalto. Isto também se reflete nas expectativas.
É tecnicamente difícil, para não dizer impossível, projetar a inflação para além de 12 meses. Bancos, gestores de recursos e empresas de consultoria o fazem com base numa série de variáveis, sendo a principal delas as expectativas, e dentro disso o grau de confiança na credibilidade da autoridade monetária. Quando um governo e um BC são comprometidos com o controle de preços, os agentes econômicos projetam inflação para dois, três anos à frente, na meta. É um “chute”, mas um “chute” ancorado pela boa reputação dos formuladores de política econômica.
Na gestão Dilma, ficou claro para os agentes que o governo jamais perseguiria a meta e que aceitaria uma inflação sempre no limite do permitido. Recentemente, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, divulgou tabela em que compara os ciclos monetários desde 2004, para afirmar que o atual ciclo, apesar das críticas, tem sido tão eficaz quanto os anteriores no combate à inflação – é possível que Hamilton tenha feito questão de defender seu ponto não para confrontar críticos fora do BC, mas as vozes, dentro da instituição, que querem o fim do ciclo atual por considerarem que ele já não faz mais efeito.
Tomando a liberdade de acrescentar duas linhas à tabela de Hamilton (ver acima), esta coluna mostra que, para os dois anos à frente do início e do fim do atual ciclo, as expectativas projetam inflação acima da meta, ao contrário do que ocorreu nos ciclos anteriores. Isto revela a maior dificuldade, em termos de custo, que se terá no futuro para convergir o IPCA à meta. (Cristiano Romero – Valor Online)