Última atualização em 10/02/2014 por admin
É muito cedo para anunciar qualquer vitória contra a inflação, embora os números oficiais de janeiro tenham sido, em geral, bem melhores que os do mês anterior. O indicador do governo, usado como referência para a política de metas, subiu 0,55% no mês passado. Depois da alta de 0,92% em dezembro, as pressões inflacionárias parecem consideravelmente amansadas. Também os números acumulados diminuíram. Chegou a 5,91% ao longo de 2013 a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos 12 meses terminados em janeiro a variação ficou em 5,59%. A melhora parece considerável, embora a taxa continue distante da meta, de 4,5%, e o ritmo mensal de aumento continue muito longe do objetivo fixado pelo governo e perseguido pelo Banco Central (BC). O cenário muda e qualquer otimismo parece precipitado quando se examinam alguns detalhes menos aparentes à primeira vista.
O primeiro é o número de itens com aumento de preço, um forte sinal da amplitude das pressões inflacionárias. A medida usada comumente, o índice de difusão, passou de 69,3% em dezembro para 72,1% em janeiro. O índice médio em 12 meses foi de 65,9%. Trocando em miúdos: durante um ano, houve aumentos em dois terços, em média, dos preços de bens e serviços pagos pelo consumidor. Em janeiro essa parcela chegou perto de três quartos dos itens.
Quando a alta de preços é tão espalhada quanto tem sido há muito tempo, é perda de tempo falar de inflação dos alimentos, ou do câmbio, ou de quaisquer itens limitados. É preciso buscar outra explicação e, no caso do Brasil, a resposta é clara: o crédito e a massa de rendimentos têm aumentado há anos, o governo gasta demais e a demanda de consumo tem crescido bem mais que a oferta de bens – principalmente industriais – e serviços. A inflação, a estagnação industrial, a piora das contas públicas e a equivocada política de estímulos ao crescimento denotam o mesmo problema.
A importância da demanda final é evidenciada também pelo descompasso entre os preços agrícolas por atacado e os preços da alimentação pagos pelo consumidor. Esse descompasso tem aparecido claramente nas pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nos 12 meses terminados em janeiro, os preços agrícolas diminuíram 1,7%, no atacado, enquanto o custo da alimentação subiu 7,74%, no varejo.
No mesmo período os preços dos produtos industriais, no atacado, aumentaram 7,95%, impulsionados em parte pelos custos e alimentados, naturalmente, pela forte demanda final. Dentre os custos destacam-se os salários, com elevação bem acima dos ganhos de produtividade, um detalhe frequentemente assinalado em relatórios periódicos do BC.
Em geral, o BC tem apontado com clareza as fontes de pressões inflacionárias, mas, apesar disso, adotou em 2011 e manteve por quase dois anos, com resultados muito ruins, uma política temerária de redução de juros. Essa política foi justificada inicialmente com dois argumentos: primeiro, em 2012 haveria uma acomodação dos preços internacionais das commodities; segundo, o governo federal cuidaria de suas contas com austeridade. A importância atribuída às cotações internacionais dos produtos básicos era exagerada. Havia desajustes internos muito mais importantes. Além disso, a aposta na austeridade fiscal era uma imprudência óbvia. Os fatos deram razão, em pouco tempo, aos críticos dessa decisão política.
O BC errou, mas atendeu às preferências da presidente Dilma Rousseff e permitiu-lhe apresentar a redução dos juros como grande vitória. Prevaleceu uma enorme tolice do debate econômico nacional: amaldiçoou-se o remédio, o juro, em vez da doença, a inflação. Os preços dispararam e o BC finalmente se mexeu, em abril do ano passado, quando a imagem da autoridade monetária já estava esfrangalhada. Os juros voltaram a subir, mas continuaram sendo o único instrumento anti-inflacionário. A gastança foi mantida, enquanto o governo tentava, inutilmente, maquiar a inflação controlando os preços da eletricidade, dos combustíveis e do transporte urbano.