Associação dos Participantes e Assistidos de Fundações e Sociedades Civis de Previdência Complementar da Área de Telecomunicações

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CINGAPURA: BREVE PERFIL DE UM PAÍS – fonte Diário dos Fundos de Pensão

Última atualização em 08/01/2014 por admin

 

Bandeira de CingapuraAdacir Reis (*)

O que faz uma cidade-estado, com aproximadamente seis milhões de habitantes, sem recursos naturais, importando até mesmo água para beber, tornar-se um dos países mais desenvolvidos do mundo?

Foi essencialmente essa curiosidade que me trouxe até o Sudeste Asiático, em Cingapura, um pontinho no Google map que precisa de um zoom para se tornar perceptível.

A viagem começou pelo vôo da Singapore Airlines, com aeromoças trajando um lindo conjunto longo, florido, diferente do modelo padronizado das demais empresas, cabelos muito bem aprumados e uma presteza fora do comum. Trata-se de um companhia criada numa visão estratégica de desenvolvimento dos negócios de Cingapura, controlada por um dos braços de investimentos do governo cingapuriano e, já por vários anos, eleita uma das melhores do mundo.

Ao descer no aeroporto de Changi, talvez o melhor do mundo, logo se nota a combinação do tecnológico e da  natureza, com muitas luzes artificiais e flores naturais por tudo que é lado. No conceito cingapuriano, o  aeroporto não é um espaço para ser tolerado, mas sim apreciado.

Após deixar de ser colônia da Inglaterra em 1959, Cingapura ingressou na Federação da Malásia em 1963, da qual foi convidada a sair em 1965. Essa pequena cidade-estado ficou então abandonada à própria sorte, em um momento dramático de sua história.

Só restou ao povo de Cingapura, um caldeirão de raças e de línguas, com descendentes de malaios, chineses, indianos e ingleses, arregaçar as mangas e ir à luta.  O que poderia ser uma panela de pressão se tornou, ao longo do tempo, a celebração da diversidade, a demonstração das virtudes da mistura dos povos, a ponto de lembrar o que o irreverente Darcy Ribeiro pregou para o Brasil: “vamos misturando que um dia dá certo”.
Templos budistas, mesquitas, sinagogas, igrejas e shopping centers se intercalam entre amplos jardins, plantas ornamentais e arranha-céus. A estética parece traduzir o estado de espírito de fazer sempre o melhor, sob pena de não haver sobrevivência.

O Partido da Ação Popular, que assumiu o poder com a independência de Cingapura e até hoje governa o País, deu início a um agressivo projeto de desenvolvimento. Coube a Lee Kuan Yew, primeiro-ministro de 1965 a 1990, a proeza de liderar a revolução desenvolvimentista em Cingapura.

Cercada pelos tubarões dos países vizinhos, a pequena ilha precisava pacificar os conflitos étnicos e sociais, criar uma economia, gerar emprego, educar um povo e preparar uma nova geração.

A única vantagem natural de Cingapura é a sua posição geográfica, um elo entre o ocidente e o oriente, o que foi devidamente aproveitado e lhe rendeu um dos maiores portos do mundo. É impressionante visitar a área portuária e constatar o que tem ali de logística, organização e engenho humano.

Cingapura é um grande porto seguro também para as empresas que aqui se instalam: pouca burocracia, meritocracia no serviço público, um dos mais baixos níveis de corrupção segundo relatórios internacionais, tributação simples, cosmopolitismo e facilidade de comunicação.

Somado à atividade portuária veio a tecnologia naval, para reparo e construção de navios, atraindo a atenção de engenheiros do mundo todo. Sem produzir petróleo,  Cingapura é um centro de processamento e refino de óleo.

A banda larga 4G foi universalizada. Hoje Cingapura disputa com Hong Kong, outro “tigre asiático”, a primazia como centro financeiro da Ásia e um dos maiores do mundo.
Com sua crescente capacitação, a pequena cidade-estado também se tornou um centro da indústria química e farmacêutica, com pesados investimentos em laboratórios. Nos últimos anos, tem havido um enorme esforço governamental para viabilizar Cingapura como um centro de medicina avançada. Para um mundo que envelhece, parece uma boa estratégia, especialmente onde a expectativa de vida dos homens já ultrapassa os oitenta anos de idade, e a das mulheres, os oitenta e cinco. Aliás, há hoje uma Comissão Interministerial em Cingapura dedicada a estudar o tema do envelhecimento, projetando as mais diversas consequências de uma população idosa para a previdência, saúde, integração social, consumo e locomoção.

Há críticos que dizem que nem tudo são flores em Cingapura, especulando sobre o grau de felicidade dos habitantes desse pequeno país. Talvez não tenham o samba no pé, mas o fato é que existe saúde universal, educação de qualidade, transporte eficiente, emprego e renda, muita renda. Acabaram de anunciar o crescimento do PIB em 2013: 4,4%, um dos melhores no difícil e instável cenário internacional do último ano.

Entretanto, Cingapura não pode ser visto como um país símbolo do capitalismo, pois sua economia é fortemente dirigida pelo Estado, tendo como braços o Central Provident Fund, uma espécie de fundo de pensão público, que provê aposentadorias e também poupança para a saúde e para a aquisição da casa própria, além do Temasek, um grande fundo estatal de investimentos com participações societárias em empresas pelo mundo afora, inclusive no Brasil.

O “modelo Cingapura de desenvolvimento” não é facilmente exportável, ainda que muitos governantes queiram importá-lo. Trata-se de um país pequeno, uma cidade, com um governo intervencionista, ainda que pretensamente esclarecido e formalmente parlamentarista. Em nome da harmonia, a liberdade de imprensa é assumidamente controlada. A disciplina e autodisciplina estão ligadas a valores culturais e filosóficos que não são tão comuns a outras civilizações do Ocidente.

Por outro lado, Cingapura não pode ser confundido com um modelo socialista ou comunista, pois seus dirigentes não se enquadram no estereótipo de ditadores, além de se estimular a inovação e a produtividade. Trata-se de um modelo híbrido, que se pauta pelo pragmatismo, sem qualquer barreira ideológica.

Para entender melhor o sucesso de Cingapura, é preciso visitar o maior líder político de sua história, Lee Kuan Yew, seguramente uma das lideranças mais completas que o mundo contemporâneo foi capaz de produzir. Esse é o tema do próximo artigo.

(*) Adacir Reis é advogado e presidente do Instituto San Tiago Dantas de Direito e Economia
                                                                                             

 

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